Vida nova depois dos 40

Partindo do Brasil (PXHere)

É bem cansativo recomeçar tudo depois ter uma vida estabelecida.  Ainda mais se esse novo lugar é um país desconhecido para nós. Mas, apesar não ser uma tarefa das mais fáceis, trata-se de um excelente exercício físico e mental. Haja paciência e determinação.

Após mais de um ano de planejamento, pesquisas, muita conversa, o dia chegou: iríamos nos mudar para o Reino Unido. Tínhamos certeza que não seria fácil, mas sempre se descobre algo na prática que não condizia com nossa expectativa mesmo com tudo bem pensado. Logo que minha cidadania europeia saiu começamos a discutir nossa mudança para a Velho Continente – qual país, em que época, quanto tempo para mudarmos. Planilhas de Excel, Google Maps sempre abertos e muita conversa com grandes amigos que moram fora ouvindo os prós e os contras para pesar na decisão final.

Por volta de seis meses antes da mudança colocamos nosso apartamento para vender, trâmite que não demorou muito para ser concluído. Na opção de vendê-lo e não alugá-lo, como muitos fazem, pesou o fato de não termos planos de voltar. Isso pode ocorrer, é claro, mas nunca foi um projeto temporário, provisório e sim uma mudança em busca de uma vida mais justa, tranquila e simples.

Enquanto isso pensamos em opções de moradia provisória no Brasil após a entrega do imóvel para os novos moradores antes de nossa partida do país. E a partir daí também começamos a nos desfazer da nossa vida, algo maluco de se fazer. Optamos por alugar um desses boxes para guardar lembranças das escolas das meninas, fotos, livros, quadros. Coisas importantes para nós e que não gostaríamos de nos desfazer.

Desapego

Por outro lado, o incrível exercício do desapego. Ah, o quanto pensei que fosse descolada e desapegada. Na hora do vamos ver foi impossível se controlar e não se emocionar. Lá no fundo dos armários havia roupas antigas, que nunca mais usei, mas que foram dadas pelo meu pai (falecido há anos), aquele jogo de xícaras que  minha mãe nos deu em nosso primeiro ano de casados, mas que já estava quebrado e guardado somente pela lembrança bacana que nos trazia. Os óculos gigantescos de 1970 que eram da minha mãe e que minha irmã me deu em um dos Natais da família. Impossível guardar tudo isso, pensar em levar conosco, menos ainda. Foi muita doação, muito lixo e outras coisas para nossos familiares checarem se gostariam de guardar ou usar.

As lágrimas escorriam involuntariamente durante esse processo, nem vou comentar a respeito das roupas das meninas de quando eram bebês. Mas posso dizer que guardamos as primeiras chupetas, mamadeiras, meus testes de gravidez. Sim, aquele objeto descartável significou tanto para nós, uma mudança em nossa rotina sem paralelos.

Nosso tempo dentro de casa, que já não era mais nossa, estava se acabando e nossa vida de nômades começando. Do nosso apartamento mudamos com tudo o que havia sobrado para a casa da minha mãe até um flat em que ficaríamos pouco mais de um mês estar disponível. Dias depois lá fomos novamente em mais uma mudança provisória, mala e cuia para o apartamento provisório.

Por mais desgastante que tenha sido (o lugar era super pequeno, no meio do Verão escaldante e sem estrutura de diversão para as meninas como a que possuíam em nosso condomínio), a mudança foi providencial, pois estávamos num bairro que frequentávamos, mas nunca tínhamos morado e com isso desconectamos completamente do local que vivíamos há mais de 15 anos. Ao mesmo tempo não nos afastamos de uma vez da nossa vida até então, embora estivéssemos um pouco mais distantes da família e dos amigos das meninas – elas também começaram a acostumar-se a nova realidade e assim dia após dia fomos vivendo um pouco do que estava prestes a acontecer.

Sábado chuvoso

O dia chegou, um sábado chuvoso e e escuro em São Paulo, talvez para facilitar o “corte do cordão umbilical” de décadas que estava prestes a ocorrer. Por mais preparados psicologicamente, animados e decididos a sair do Brasil, nada explica a dor de deixar a família. Eu, principalmente, sou extremamente ligada à minha mamãe e minha irmã. Por anos temos sido nós três e nossos agregados. Minha irmã, assim como eu, tem dois filhos e nossa crianças sempre juntas e ligadas. Não foi e não tem sido fácil, as lágrimas ainda vêm à tona.

Exaustos com toda a mudança em São Paulo, enfim rumamos para o desconhecido, a Inglaterra, lugar que havíamos escolhido para recomeçar nossa nova vida. E é aqui que a aventura começa.

Quase dois meses depois estamos estabelecidos num apartamento confortável e num bairro tranquilo, mas ainda acertando vários detalhes para que nossa rotina volte a existir. Nos próximos posts vamos compartilhar um pouco dessa experiência, mostrando o que acertamos e o que erramos nessa mudança. Moradia, compras do básico para mudar para a nova casa, acertar as instalações de água, luz, gás, TV, internet, conta em banco, escola, médico, assim, nessa sequência. São inúmeros detalhes, burocracias, mas que fazem as engrenagens funcionarem por aqui.

Desmontar e montar, que trabalhão!

Desmontar e montar, que trabalhão!

Por enquanto posso dizer que a experiência até aqui valeu a pena, mesmo com a perda de coisas que valorizamos. Mas a vida é assim mesmo, feita de ganhos e perdas.

Formada em Letras, é atualmente assistente executiva. Apesar da carreira, sempre teve em mente o objetivo de criar seus filhos de perto, vivenciando ao máximo cada momento deles.

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6 Responses

  1. Nélio Albano disse:

    Sucesso para vocês, abraço no Ricardo é um grande beijo para as meninas.

  2. Daniela Maeyama disse:

    Torcendo para que tudo de mais maravilhoso aconteça para vcs por aí, mas confesso que com muita saudades dos nossos papos! Quanto carinho e quanta troca nas nossas consultas! Rezando para que vcs se adaptem rapidamente, e porque não um dia nos reencontrarmos por ai! Sempre que vier ao Brasil passe para me dar um beijo! Mandem notícias! Uma abraço muito apertado para vcs 4! Bjos da cegonha❤️

  3. Regina Bork disse:

    Que mudança!! Que conquista!! Terão muitas outras!!! Saudades sempre teremos, dos que estão longe e dos que já se foram, daqueles que nos comunicamos e daquilo que vivemos!… mas o futuro é essencial e faz parte de um todo!! Família especialmente querida!!! Beijisssssss

  4. Carmen disse:

    Re querida você merece tudo isso essa explosão de emoções gosto muito de vc e espero que vc seja muito feliz aí com sua família. sei o quanto vc é batalhadora e essa será sua recompensa. bjo grande.

  5. Hanny Mariano disse:

    Re que relato emocionante! Essa mudança exige muita coragem, muita mesmo! Que Deus abençoe sua nova vida, você merece toda felicidade do Mundo! Bjsss e nas meninas tb!

  6. Andrea Loiola de Oliveira disse:

    Já estou com muita saudade! Sei que tudo coopera para o bem… e muitas coisas boas estão por vir. Desejo a vocês um recomeço abençoado.